Notícia

terça-feira, 18 de março de 2014

Mulheres do meio rural conquistam delegacia móvel

Paraná receberá três unidades móveis voltadas ao atendimento da mulher em situação de violência

 

 

Fruto de uma demanda do Movimento Sindical dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Rurais de todo o Brasil, o Paraná receberá do governo federal três unidades itinerantes voltadas ao atendimento de mulheres em situação de violência no campo. Uma unidade ficará em Curitiba e as demais percorrerão toda a área rural do interior Estado.

 

Uma chave simbólica será entregue pela ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Eleonora Menicucci, à Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Paraná (FETAEP), ao presidente Ademir Mueller e à secretária de Mulheres, Mercedes Demore, ao vice-governador Flávio Arns e ao prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet. A solenidade acontecerá nesta quinta-feira (20), às 10h, no Salão de Atos do Parque Barigui.

 

Para prestigiar o ato a FETAEP levará 300 trabalhadoras rurais de diversas regiões do Estado, entre elas Prudentópolis, São José das Palmeiras, São Tomé, Paraíso do Norte, Peabiru, Tijucas do Sul, Sapopema e Manoel Ribas, Pato Branco e Colorado. Segundo a secretária de Mulheres da Federação, Mercedes Demore, as unidades contarão com o trabalho de uma equipe multidisciplinar que inclui profissionais de segurança pública, da saúde, de atendimento psicossocial e do setor jurídico.

 

Além disso, continua ela, serão equipadas com três salas de atendimento, netbooks com roteador e pontos de internet, impressoras multifuncionais (para digitalização de documentos e fotocópias), geradores de energia, ar condicionado, projetor externo para telão, toldo, 50 cadeiras, copa e banheiro, assim como instalações para a acessibilidade de pessoas com deficiência.

 

As unidades de atendimento fazem parte do programa “Viver sem Violência”, do Pacto Nacional pelo Enfrentamento à Violência que, a partir da demanda da Marcha das Margaridas de 2011 (ação de massa das mulheres do campo brasileiro), passou a inserir as unidades na pauta do programa. Todos os outros Estados da federação já receberam suas unidades.

 

A organização do itinerário no Paraná, a manutenção e o gerenciamento das delegacias móveis ficará a cargo de uma parceria entre a FETAEP, as prefeituras e o governo do Estado por meio da Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (Seju).

 

 

 

 

 

 

Mulheres da área rural ainda sofrem com a invisibilidade

Em se tratando da violência contra a mulher, dados estatísticos comprovam que entre 30% a 50% das mulheres brasileiras já sofreram algum tipo de violência. Em 2012, o Paraná, segundo um estudo complementar do Mapa da Violência, foi apontado como o terceiro estado brasileiro em violência contra a mulher – ficando atrás apenas do Espírito Santo e de Alagoas. Já de acordo com o Relatório Final da Comissão Especial da Violência contra a Mulher, elaborado também em 2012, a cada 10 minutos uma mulher é agredida no Brasil. O estudo diz ainda que apenas 10% dos municípios possuem serviço de atendimentos a esses casos – “sendo esta lacuna que as unidades móveis vêm preencher”, comenta Mercedes Demore.

 

Os dados evidenciam uma realidade assustadora. No entanto, é preciso considerar que as mulheres do campo nem mesmo aparecem nesses índices, uma vez que ainda sofrem diante de outro problema social: a invisibilidade. Muitas, devido ao isolamento, desconhecem seus direitos perante a família e a sociedade. Diante disso, deixam de buscar seus direitos pelo simples fato de os desconhecerem. “E é justamente aí que entra a atuação da FETAEP, que leva informação até o campo, propiciando conhecimento acerca dos direitos da mulher”, comenta.

 

É de se lamentar que a sociedade ainda seja herdeira de um regime machista secular que, na comunidade rural, torna-se mais acentuado. Nota-se, em alguns casos, que as próprias mulheres têm dificuldades de se desvincular dos discursos de ordem sexista. O inconsciente coletivo da sociedade – formado por ideias arraigadas no passado – não permite discernir de forma clara tamanha violência que as mulheres sofrem, dando a entender que “as coisas são assim mesmo” ou, ainda, que “isso não existe!”.

 

Diante desse conformismo, há outro agravante: a omissão. Grande parte das mulheres se cala diante da violência que vivencia, não denunciando as agressões sofridas no âmbito doméstico.